Cabeamento Estructurado (por onde tudo passa)
Quando se fala em data centers, é comum dar destaque aos servidores, aos equipamentos de segurança ou aos sistemas de refrigeração. No entanto, existe um elemento fundamental que liga tudo isto e muitas vezes passa despercebido que é o cabeamento estructurado.
Sem um bom projecto de cablagem, é normal que nenhum equipamento transmita ou receba informação ou pior que nenhum serviço funcione. A eficiência e fiabilidade de todo o sistema depende da forma como os cabos estão instalados, organizados e terminados.
Mas o que é, afinal, o cabeamento estructurado? E por que razão não se trata apenas de "ligar os cabos"?
O Que é Cabeamento Estructurado?
Cabeamento estructurado é simplemente um conjunto de normas, boas práticas e arquitectura que define como devem ser instalados os cabos de uma rede, seja num pequeno escritório, ou num data center com milhares de ligações. É preciso ressaltar que não é apenas “ligar cabo de um lado ao outro”. Cabeamento estruturado é:
- Padronizado
- Documentado
- Organizado para crescer, mudar e durar
Componentes de um Sistema de Cabeamento Estructurado
Para que um projecto seja bem sucedido na sua execução é importante que o projectista tenha em mente alguns elementos principais referentes ao cabeamento estructurado. Veja alguns desses elementos definidos de forma práctica:
1. Sala Técnica Principal (MDF -Main Distribution Frame): ponto central onde os cabos troncais chegam, normalmente ligada aos servidores e equipamentos de backbone.
2. Salas de Telecomunicações Secundárias (IDFs - Intermediate Distribution Frames): distribuem o sinal para zonas específicas do edifício.
3. Backbone (cabeamento vertical): liga o MDF aos IDFs, normalmente com fibra óptica ou cabo UTP de maior categoria.
4. Ponto de Consolidação (Patch Panel): É onde todos os cabos de rede terminam (se conectam) antes de se ligarem aos switches. Pensa nisto como uma central de distribuição, que permite reorganizar as ligações sem tocar na infraestrutura física.
5. Cabos de interligação (patch cords): os cabos curtos que ligam os equipamentos aos patch panels ou switches.
6. Cabos de Par Trançado (UTP, STP, FTP): Até neste momento os cabos mais comuns são os de cobre com as seguintes referências Cat5e, Cat6, Cat6a e Cat7, note que o termo Cat refere-se a categoria, por exemplo Cat6 é categoria 6. Cada categoria tem especificações diferentes de velocidade e interferência.
- Cat5e: suporta até 1 Gbps
- Cat6: suporta até 10 Gbps (distâncias curtas)
- Cat6a: 10 Gbps estável até 100 metros
- Cat7: blindagem superior, mais usado em ambientes com ruído electromagnético
7. Cabos de Fibra Óptica: Quando falamos em backbone (núcleo da rede), a fibra óptica é a melhor alternativa. Porque permite a transmissão de dados a grandes distâncias, com alta largura de banda e ainda é imune a interferências. A fibra óptica é comumente classificada em dois tipos:
- MM (Multimodo): curta distância (até ~500m)
- SM (Monomodo): longa distância (até quilómetros)
8. Racks e Bastidores: São os armários metálicos onde ficam os switches, servidores e patch panels. Têm ventilação, organização vertical e horizontal de cabos, e normalmente seguem o padrão 19 polegadas.
9. Cabeamento horizontal: liga os pontos de rede (tomadas) aos racks e switches nas salas técnicas.
10. Pontos de Rede (RJ45): São as tomadas de rede espalhadas pela infraestrutura. Cada ponto é ligado a um patch panel no bastidor, de forma centralizada.
11. Dutos, Calhas e Eletrocalhas: Responsáveis por conduzir e proteger os cabos ao longo do edifício. Devem respeitar distâncias mínimas de energia (evitar interferência) e permitir manutenção sem quebrar paredes.
Por Que Deve Ser "Estructurado"?
Um sistema de cabeamento estruturado garante que:
- É possível crescer sem refazer tudo
- A manutenção é fácil (e rápida)
- O desempenho é estável
- O aspecto visual é limpo e profissional
- Há rastreabilidade e documentação, não há “cabos misteriosos”
Em uma instalação mal feita, pode se observar cabos pendurados, etiquetas feitas à mão ou até sem identificação, neste cenário qualquer problema vira um pesadelo.
Tipos de cabo: cobre ou fibra?
A escolha entre cabo de cobre (ex: Cat5e, Cat6, Cat6A) e fibra óptica depende do projecto:
- Cobre é ideal para ligações curtas (até 100 metros) e mais económicas. Cat6A, por exemplo, já suporta até 10Gbps.
- Fibra é mais cara, mas ideal para grandes distâncias e altas velocidades. É também imune a interferências electromagnéticas.
Normas e boas práticas
Um projectista sério nunca trabalha "com achismos". Tudo é feito com base em normas internacionais, como:
- TIA/EIA-568: normas para cabeamento de telecomunicações em edifícios comerciais
- ISO/IEC 11801: norma internacional para cabeamento genérico de telecomunicações
- ANSI/TIA-942: especificamente voltada para data centers
Estas normas definem distâncias máximas, tipos de cabos recomendados, métodos de organização, raio mínimo de curvatura, separação entre cabos de energia e de dados, entre outros detalhes essenciais.
Regras de Ouro no Projecto de Cabeamento
Documentar Tudo: é importante que cada cabo, ponto e patch panel tenham identificação única documentada e actualizada.
Separação de Energia e Dados: deve se ter a atenção de nunca passar os cabos de rede no mesmo duto que cabos eléctricos, pois isso pode causar interferência e falhas.
Deixar Folga Técnica (Slack): a outra práctica importante é de nunca esticar os cabos ao máximo. Sempre deve-se deixar uma folga (ex: 30 cm) para facilitar nas futuras manutenções.
Evitar Curvas Acentuadas: os cabos têm um raio mínimo de curvatura. As curvas fechadas representam a perda de desempenho, portanto importa sempre considerar esse aspecto.
Testar Tudo (Certificação): após a instalação, cada ponto deve ser testado com ferramentas próprias (ex: Fluke). Isso garante que não haja perdas ou interferências.
Exemplos Práticos
Pequeno Escritório
- 1 bastidor
- 1 switch
- 12 pontos de rede: 4 para PCs, 2 para impressoras, 2 para telefones VoIP, 4 livres para crescimento
- Cabo Cat6 com patch panel
- Um duto de rede separado do eléctrico
Mini Data Center (Clínica Médica)
- 2 bastidores (TI e Segurança)
- Backbone em fibra óptica MM
- Cabos Cat6a blindados para câmaras IP
- Etiquetagem normalizada (ex: SW-01-P03 = Switch 1, Porta 3)
- Eletrocalhas suspensas, com gestão de cabos horizontal
O Que o Projectista Observa
Quando um projectista entra numa sala vazia, precisa começar a ver onde ficarão:
- As calhas
- Os pontos de rede
- As tomadas eléctricas
- Os bastidores
- As fibras entre edifícios
- A separação entre rede pública e interna
- A distância entre cabos e fontes de interferência
É exactamente como um xadrez mental onde cada jogada mal pensada hoje, pode custar caro amanhã.
Pensamento Estratégico
- Qual será a expansão daqui a 2 ou 5 anos?
- Como garantir manutenção rápida sem parar os serviços?
- Como fazer o cabeamento ser esteticamente aceitável (ou invisível)?
- Qual o melhor equilíbrio entre custo, qualidade e durabilidade?
Cabeamento é Projecto, Não Apenas Execução
O cabeamento estructurado não é tarefa de electricista. Faz parte da engenharia de comunicações. Importa saber que cada metro de cabo mal pensado, cada ponto mal colocado, pode causar:
- Perda de desempenho
- Atrasos na activação de serviços
- Custos inesperados
- E até riscos de incêndio ou falhas graves
A ideia de projectar o cabeamento é de antecipar o futuro. É a melhor forma de garantir que por mais que haja necessidade de mais serviços, a infraestrutura física estará preparada para suportar tudo.
Até breve!
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